Lluvia (Chuva), óleo sobre tela, 1997
Jaime Alberto Franco (Cali, 1963)
Por uma vez decido ceder.
Abandonar-me à chuva que cai. Esquecer a pressa, o desconforto da roupa colada à pele, a humidade entranhada na alma como se fosse mofo.
Abrando o passo, acerto a respiração com o ritmo das gotas que caem.
Paro.
Agora a nuvem sou eu. Sou eu quem chove. É a minha alma que se desfaz em água.
E, pela primeira vez em muito tempo, sinto-me una. Sinto-me EU.
Agora, mais do que nunca, a roupa é um estorvo, os sapatos um absurdo por resolver.
Descalço-me.
Dispo-me.
Sinto a chuva a beijar-me a pele, a escorrer-me pelo corpo, a infiltrar-se insidiosamente em cada poro.
E um desejo de abandono dos sentidos torna-se um imperativo. Já não sou eu quem comanda os meus passos.
Uma sede de mar, de ondas, de marés vivas dentro de mim vão gritando até todo o mundo ser uma massa sonora, um pedido de ajuda impossível de ignorar.
Olho a orla da praia uma última vez. Dirijo agora o meu olhar para o horizonte, a linha cinza e difusa em que o céu e o mar se tocam.
A chuva continua, incessante, como se viesse do princípio do mundo.
É inevitável o meu caminho.
Tão inevitável como a chuva que cai, dolente e lasciva.
Respiro fundo uma última vez e avanço.
A chuva cai, mas já não a sinto.
Misturo-me com o mar.
Já não sinto a água a tocar-me a pele.
Fundimo-nos.
Espero então a sétima onda para ganhar escamas prateadas e poder mergulhar.
Abandonar-me à chuva que cai. Esquecer a pressa, o desconforto da roupa colada à pele, a humidade entranhada na alma como se fosse mofo.
Abrando o passo, acerto a respiração com o ritmo das gotas que caem.
Paro.
Agora a nuvem sou eu. Sou eu quem chove. É a minha alma que se desfaz em água.
E, pela primeira vez em muito tempo, sinto-me una. Sinto-me EU.
Agora, mais do que nunca, a roupa é um estorvo, os sapatos um absurdo por resolver.
Descalço-me.
Dispo-me.
Sinto a chuva a beijar-me a pele, a escorrer-me pelo corpo, a infiltrar-se insidiosamente em cada poro.
E um desejo de abandono dos sentidos torna-se um imperativo. Já não sou eu quem comanda os meus passos.
Uma sede de mar, de ondas, de marés vivas dentro de mim vão gritando até todo o mundo ser uma massa sonora, um pedido de ajuda impossível de ignorar.
Olho a orla da praia uma última vez. Dirijo agora o meu olhar para o horizonte, a linha cinza e difusa em que o céu e o mar se tocam.
A chuva continua, incessante, como se viesse do princípio do mundo.
É inevitável o meu caminho.
Tão inevitável como a chuva que cai, dolente e lasciva.
Respiro fundo uma última vez e avanço.
A chuva cai, mas já não a sinto.
Misturo-me com o mar.
Já não sinto a água a tocar-me a pele.
Fundimo-nos.
Espero então a sétima onda para ganhar escamas prateadas e poder mergulhar.
Susana Soares
21.05.08
3 comentários:
A fusão entre a pele e o mar é evidente! A cumplicidade existente entre o corpo e o aquático faz-nos regressar à génese e sentir uma enorme paz interior e ao contrário do que seria de esperar, a água, aparentemente gelada e geradora de desconforto é quente, húmida, acolhedora... Enfim,«Deito-me na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado
na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.».
Que bom sentir que nos podemos mesclar com a natureza e « regressar às fragas» de onde nos roubaram!
Adorei!Intenso...
bjos
Desculpe, não tenho vindo aqui muito tempo e ontem vim mesmo a fugir.
A mistura entre a pele e o mar é muito mais que doce e muito mais que amarga… A cumplicidade existente entre nós e o nosso mar e o mar dos outros.
O cheiro do mar,
Da terra quente…
O som da chuva no telhado,
Do vento assoprando entre as arvores.
O sabor do pão feito num forno de lenha
E do café que a avó fazia quando estava frio
E da limonada que a avó fazia quando era Verão. (só gostava da limonada dela…)
Ao recordar o que a pouco era rotina… rotina semanal. Não diária. Mas semanal.
Os olhos cheios de agua doce como era a voz da avo fez-me (ao ler este texto) voltar a olhar para o céu e ver que afinal aquela avó grande e com mau feitio tinha coisas doces, alem da voz, o seu café, a sua casa, a sua limonada e o seu pensamento sobre o mar. mar que é salgado mas ela vivia-o e via-o como doce. Doce. Perfeitamente doce. Puramente doce.
É bom de vez em quando mirar o passado.
Despirmo-nos e descalçarmo-nos do presente, vestir e calcar o passado.
Aprendemos mais com o passado do que com o presente. Este só existe para os românticos.
Na verdade, sou feliz com o passado e feliz com o presente.
Na verdade, sou feliz porque adoro ler textos intensos.
Na verdade, sou feliz porque adoro ler mais do que um texto de 5 sentidos.
Na verdade, sou feliz porque adoro ler textos com mais de 90 sentidos.
Na verdade, sou feliz porque adoro ler os seus textos.
Na verdade, sou feliz porque me posso despedir desta forma:
Beijinhos doces como a lua, o sol, o mar (salgado mas como a avó o vê, doce) e as estrelas,
Marta Santos
Bem sabe o quanto este é especial para mim. Tocou-me de uma maneira bastante forte, intensa...não sei bem!
A chuva caía no telhado do quarto em pingos ritmados, parecia música.
O vento que acabara de chegar fazia o acompanhamento.
Lá fora a chuva molhava e escorria pela rua...Chuva que molha e perfuma a terra.
Foram tempos de dor, de lágrimas que se misturavam com as gotas da chuva. O meu coração parecia que tinha morrido. A minha alma, quase levada pelo vento forte dessa noite, parecia perdida, sem saber para onde ir e parecia que procurava a verdade.
Agora, olho para cima e vejo o sol que volta ainda mais quente. Levanto-me e sigo, com a certeza que vencerei no meu caminho. Pois se o meu coração morreu, ele renasceu, a morte é renascimento, eu renasci.
Estou pronta para viver!
"Uma lágrima que se intimida num momento de mudança...É deixá-la correr e molhar um rosto de esperança!"
Obrigada por tudo.
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