domingo, 20 de janeiro de 2008

Teia de Penélope

Procuro a palavra certa
como se o ar me faltasse.
Vagueio pelas paredes
como se no branco me salvasse.
Começo pelo fim,
pelo Z (de zero),
querendo apenas
o A (de alvorada).
Tento o L de Lua
mas só chego ao Lodo.
E então recomeço.
Zumbem os ouvidos
com o silêncio que asfixia.
Cegam os olhos
com o brilho das palavras.
Fecho os olhos.
Volto a abri-los.
E, como por magia,
vejo aquela palavra.
Vejo a minha palavra.
A Palavra.
Num desenho informe
a palavra escreve-se,
descreve-se e desescreve-se.
E eu, palavra perdida
depois de achada,
recomeço-me, incessante,
como Teia de Penélope.

Susana Soares
04.06.1999

4 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Tal como Ulisses e, graças à estratégia da teia, também tu recuperaste a Palavra inviolada, derrotando a permanente ameaça de um futuro que se adivinhava para sempre perdido. Com uma luta incessante venceste a inércia do «triste de quem vive em casa,/ contente com o seu lar», derrubando tudo e todos para firmar o teu sonho. De regresso, qual visionário, recuperaste a vida ... para além das fronteiras imensas que teimam em ocultar-se.

Anónimo disse...

Tal como dizia Sophia de Mello, "metade da minha alma é feita de maresia" penso que parte da tua alma é feita de poesia!
Gostei muito
Beijinhos
Maria Manuel

Anónimo disse...

A profundidade da amizade e do carinho, a solidez de uma alma cuidadosamente esculpida pelas arestas de uma vida, quando o destino traz desilusões podem ser desafios enfrentados com dignidade e determinação podendo assim, substituir-se cada dádiva perdida por outras dez que nunca se percebiam se a vida fosse um mar de rosas. Se a vida roubar as forças, a agilidade e a resistência, haverá sempre a força das convicções. Se não for com a PALAVRA, será com um gesto!=)

Beijinhos
Rita