Mulher ao espelho, Picasso
Falemos de corpo.
Falemos de Deus.
Mas Deus não tem corpo
E teimam que ele existe.
Eu existo. E tenho corpo.
E não sou Deus.
Para quem tem um Deus
E é branco, Deus branco é.
Para quem é preto,
Deus preto é.
Mas sempre velho.
Mas sempre Homem.
Porque a mulher é a luxúria,
É o pecado, é dar.
Porque ser novo é perigoso,
Lembra a revolução, é forte.
Fizeram Deus
à vossa imagem e semelhança.
Deus odeia o corpo.
E o meu corpo odeia Deus.
Em sonhos sou odalisca,
Coberta com véus,
Para me descobrir.
O meu sexo não é o dos anjos,
Que só são anjos por não terem sexo.
E têm penas.
E têm pena.
Apenas.
Sou mulher.
Com prazer.
Com querer.
E só os anjos,
por não terem sexo,
nos pedem, com pena:
“Não nos deixeis cair em tentação
E livrai-nos do mal”.
Amen.
Susana Soares
2002
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