segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Aurea mediocritas

Em tempos antigos, foi esta a máxima de vida de homens tão insignes como Horácio.
Em tempos antigos, a aurea mediocritas, que se pode traduzir como mediania dourada, era o caminho para alcançar a plenitude.

Em tempos antigos.

Desde então muito tempo passou, muitas mais voltas o mundo deu, muitas mais vezes se sonhou.
E eis-nos de novo atracados neste porto: aurea mediocritas. Desta feita, o caminho para alcançar a notoriedade. Ainda que oca. Ainda que fugaz.

Mas vamos por partes.
Mediocritas. Mediocritas, atis, nome latino da terceira declinação, caso nominativo, género feminino, número singular. Significa mediania, meio termo, mediocridade (sim, medíocre é o mesmo que mediano!...). Algo que não sai das normas. Que não transgride. Que não provoca. Que não tange as cordas da emoção. Que não leva ao frémito das asas a querer voar. Mediocritas. Assim mesmo.
Áurea. Aureus, a, um, adjectivo latino da primeira classe, caso nominativo, género feminino, número singular, grau normal. Significa dourada, de ouro.
Brilha, portanto.
Mas também se diz que nem tudo o que brilha é ouro.
E é verdade.
Sobretudo nos tempos que correm.

Vivemos num tempo de aurea mediocritas, em que a mediocridade impera. Desde que seja dourada.
Nunca como agora se viu tanta gente medíocre a brilhar. E com honras de primeira página.
Sim, que o que é preciso é aparecer e brilhar.
Mesmo que a notícia não seja notícia. Mesmo que a verdade do momento se apague quando se apagam as luzes das câmaras e da ribalta. Mesmo que o fundamental fique por dizer. (Sobretudo se o fundamental ficar por dizer.)

Cansa.
Tanto brilho cansa.
Tanto barulho cansa.
Tanto vazio cansa.

E uma vontade crescente de encher o peito de ar.
Correr.
Rir.
Chorar.
Intensamente.
Desmesuradamente.

A Vida.


Susana Soares

12 de Dezembro de 2007

Café
Quem foi o arquitecto

que fez este Café
tão longe da natureza
e tantos homens de pé?
Criado: põe esta gente na rua!
E abre um buraco no tecto
que eu quero ver a lua.

José Gomes Ferreira

4 comentários:

Anónimo disse...

No lufa lufa de horas vendidas ao desbarato...lá consegui roubar uns segundos ao tempo!Ufa! Folheei o papaletras e eis que te encontro no país das maravilhas!!De aurea mediocritas estavas longe!
Gostei.Continua.
Beijos
Maria

Anónimo disse...

A mediocridade, a falsa modéstia, é como a hipócrizia, ou queremos vencer ou deixamos andar... nada é impossível quando se quer: os obstáculos tornam-se em exercícios, as tristezas em emoções passageiras, as distâncias em reflexões, as fraquezas transformam-se em dons! E a vida adquir um significado para se viver, o caminho, faz-se caminhando...

Rita

Anónimo disse...

gostei do que li!!

beijos
Rita

Anónimo disse...

......Peço desculpa pela invasão, mas acho que é isto que é suposto, quem tem jeito escrever, quem não tem comenta :).......

Ainda não sei muito bem porque vim aqui parar mas comecei a ler o teu texto e só consegui parar no último ponto final!!!
Parabéns, eu gostei e é pena que textos como este fiquem por estes blogs escondidos, à mercê de quem lê!!!!

Um sincero beijinho, Diana*